27/01/2011 17:02

Relógios e colchas de retalho!

 Quando criança tivemos um avô, um tio, um primo, enfim algum homem de nossa família dono de verdadeiro tesouro: um relógio de ouro, daqueles imensos, grandões, patacões mesmo como se diz lá no interior. Daqueles que quando olhamos, ficamos imaginando que um dia o destino possa nos presentear com a posse do mesmo.

Vivemos nossa infância, adolescência e nos tornamos adultos sempre acompanhando a trajetória de imponente relógio. Muitas vezes já de posse de outro membro da família, mas ainda assim alimentamos a esperança de que o destino vá nos premiar o desejo e finalmente ele será nosso!

Quando adultos, compreendendo então o valor monetário do mesmo, já que nesta altura sabemos tratar-se de um Paték Phillipe, belíssimo relógio de bolso, todo de ouro e, considerado sem dúvida alguma um significativo patrimônio familiar; entendemos também o significado emocional que ele teve ao longo da história do núcleo familiar em que existe...

Então, mais do nunca desejamos que este sim, seja aquele objeto deixado como herança para nós, como um reconhecimento do nosso valor como membro desta família.  Esperamos ser recompensados pela silenciosa espera e que na primavera da vida ele esteja lá: lindo, formoso, imponente e finalmente nosso!

Mas, e invariavelmente existem "mas",  um destes desvios do destino, descaminhos da vida, nos deparamos com a possibilidade de que o mesmo já não faça mais parte da lista de ítens que seremos um dia herdeiro. Ficamos com uma sensação de indignação por não termos sido consultado e mais do que isto,  nos sentimos traídos afinal "cuidamos" desta jóia nossa existência inteira, desde os primeiros momentos que dela tomamos ciência; e descobrimos que as palavras às vezes se perdem no tempo...

De que nos adianta palavras passadas que nos foram ditas, que nos garantiam herdar o mesmo lá naquele futuro distante,  e que no hoje vivido descobrimos que o passado foi apenas uma estória que nos embalou, alegrou e confortou no momento que foi citada.

Descobrimos que não mais existe relógio, apenas objetos, estórias e promessas que jamais serão cumpridas e, constatamos que algumas coisas, você herdará apenas no coração... Apenas no coração, porque restará somente a lembrança do desejo de que o relógio fosse algum dia seu, mas, a vida é feita de momentos após o outro e,  alguém resolveu mudar o curso da história.

O relógio, o grande patacão será uma bela e contagiante história de uma vida e a você talvez reste apenas aquela colcha de retalho, usada para cobrir as pernas sentado à frente da televisão nas noites frias de inverno!

Talvez  restem muitas colchas de retalho no nosso coração silencioso por não entendermos o quanto o tempo pode ser inexorável...

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